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A arte de Fábio Sampaio

A urbe-arte sinaliza para mais além. Lá, onde a iconografia do cotidiano pinta em setas, lembranças, carimbos, mensagens e uma outra escala de outros valores atravessam nosso decodificador interno que começa a piscar. Frente à obra de Fábio Sampaio, acusa que ela é simplesmente simples. 
Sua pintura se resolve com poucos traços, economiza tinta, desliza como água, traz luz e certezas do que nos cabe bem em um mundo cheio demais.

Representações gráficas quase oníricas se desprendem das superfícies claras e brincam com nossa memória feito cartas enigmáticas. Elas nos contam alguns segredos e nos fazem pensar na ressignificação do coletivo, das misturas das classes, dos anseios que se divergem e se conectam em objetos utilitários comuns a todos nós.

Sobreposições abstratas se entendem bem com geometrismos; cores não são mais primárias; alegorias de uma vida sob a ótica do design popular imbricado ao pensamento lúdico; apenas alguns regimentos estéticos de um artista disciplinado na construção da sua história que começa a cada nova tela com o loop dos símbolos impressos que não nos dá sensação de déjà vu, aliás, só reforça a intencionalidade das formas e sentidos, nem sempre óbvios demais embora nos pareçam cansados quando surgem no cenário habitual.

O poeta visual da razão altera códigos e os cobre de tinta acrílica excluindo toda possibilidade de tradução aos olhos despreparados.
Há manchas, há sinais, há natureza, há listras, há relevos, há liberdade para construir universos paralelos, perpendiculares e até oblíquos.

As obras refletem a crença no belo vindo da alma, a singularidade das escolhas e a doce firmeza de quem assina cada novo projeto seja indoor ou outdoor, afinal Fábio também representa a rua em sua temperança que equilibra ilusão e realidade, focado em suas crenças do que é pode ser mais leve para os olhares alheios.

Todos nós merecemos esta positividade expressa no imaginário de um brasileiro que vai além dos limites da palavra. E a minha se cala aqui, feliz com o que viu.



Andrea May
Artista visual e curadora independente